A HARMÔNICA DE VIDRO

Recentemente assisti a um filme do Sherlock Holmes (cara, eu AMO as histórias do Sherlock!) com o Galdalf!!! Quer dizer, o Ian McKellen (risos).

No filme, Sherlock está na terceira idade, não tem mais a companhia do doutor Watson e se mudou para uma propriedade rural onde se dedica a criar abelhas… O grande mistério gira em torno da própria memória de Sherlock, que aparentemente está sofrendo de Alzheimer. Sua memória está cada vez mais fragmentada e, apesar de tentar de todas as formas adiar o inevitável, ele sequer consegue se lembrar do porquê de ter parado de investigar casos e se mudado para aquele lugar.

O filme Sr. Sherlock Holmes, de Bill Condon (2015), está disponível na Netflix.

O filme é muito bacana, embora já não seja tão novo, e eu super recomendo, mas o que mais chamou a minha atenção no enredo foi um instrumento musical de que nunca tinha ouvido falar — a harmônica de vidro!

Fui pesquisar e o negócio é real! Realmente existiu e, vejam vocês, foi uma invenção de Benjamin Franklin (pois é, um dos pais fundadores dos EUA!). O cara, além de revolucionário e agitador político, era um cientista! Fez muitos experimentos com eletricidade, era inventor e um musicista talentoso.

A ideia, pelo que parece, veio do copofone. Um dia, em viagem pela Europa, Franklin foi a um concerto de copofone, que consistia basicamente em copos de cristal cheios d’água em níveis diferentes, para produzir sons em diversas notas e escalas. Ele achou o som resultante encantador (e de fato é), mas a coisa toda era um tanto complicada. Já de volta aos Estados Unidos, foi para a prancheta em busca de uma solução mais simples e acabou criando um novo instrumento, que chamou de harmônica ou harpa de vidro (glass harmonica em inglês).

O copofone com copos de cristal

A harmônica é feita de várias cuias de cristal em tamanhos diferentes (o que produz os sons em notas e escalas distintas na versão de Franklin) presas pelo centro a um eixo de metal que gira, fazendo-as mergulhar em um recipiente com água na parte de baixo. Muito mais simples e elegante do que o copofone, não demorou para que a harmônica se tornasse popular e compositores importantes, como Mozart e Beethoven, chegaram a escrever peças especialmente para ela.

Nem bem algumas décadas se passaram, contudo, e a bela criação de Franklin se tornou controversa…

Acontece que alguns músicos, ao redor do mundo, começaram a morrer de maneiras misteriosas após terem aderido ao instrumento. Foi o caso da musicista alemã Marianne Kirchgessner, que morreu subitamente em 1808. Os expectadores ou meros ouvintes também não estavam livres. Durante um concerto de harmônica, uma criança morreu de repente na plateia e o instrumento ganhou fama de amaldiçoado, chegando a ser proibido em alguns países.

Provavelmente o motivo das mortes (de algumas delas, pelo menos) era envenenamento por chumbo, que era usado na composição das tintas que se usavam para pintar as cuias de cristal.

Talvez tenha contribuído para a polêmica, também, o fato de Mesmer (o fundador do mesmerismo, a teoria do magnetismo animal) ter se tornado um dos mais famosos tocadores de harmônica e, de fato, tê-la incluído como instrumento em sua doutrina mesmérica.

Franz Anton Mesmer, o pai do mesmerismo.

No filme que menciono no começo deste texto, a harmônica de vidro é usada por uma mulher para tentar contato com o espírito de seu filho já falecido. Ao que parece, a harmônica começou mesmo a ser usada para esse tipo de coisa, mas Benjamim Franklin, sem se deixar abater, continuou a tocá-la até fim de sua vida, em 1790.

Deleite-se, abaixo, com o adorável som da harpa de Benjamim Franklin!

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