Semana passada falamos do Tabuleiro Ouija e achei que seria interessante trazer um pouco da história das irmãs Fox, agora.
Elas estão intimamente ligadas ao surgimento desse brinquedo (sim, é um brinquedo), bem como ao surgimento do próprio movimento espiritualista estadunidense; além disso, tiveram uma vida recheada de polêmica e até os dias de hoje são objeto de muita controvérsia…
Bem, as irmãs Fox que nos interessam eram três: Kate, Maggie e Leah. Digo isso porque os pais delas, John D. e Margaret Fox, tiveram muitos outros filhos, como era bastante comum naquela época em que não havia televisão (ok, piada ruim). Elas eram bem novinhas, então. Kate tinha cerca de 10 anos, Maggie não tinha mais do que 14.
Elas haviam se mudado para uma casa modesta no povoado de Hydesville, no estado de Nova Iorque. Toda a vizinhança era cismada com a propriedade, que tinha fama de mal-assombrada. Os vizinhos estavam convictos de que um crime havia acontecido ali; tudo porque uma jovem moça chamada Lucretia, que tinha trabalhado para os antigos moradores, os Bell, disse, em certa ocasião, após voltar de uma licença, que a casa estava diferente, cheia de objetos que a família não tinha antes e não condiziam com sua situação econômica. Lucretia teria passado a se sentir desconfortável na casa e a ouvir barulhos estranhos.
Pois bem, barulhos estranhos foram justamente o que John e Margaret Fox começaram a ouvir na nova casa. O casal simplesmente não conseguia dormir. Um dia, exausto e farto daquilo tudo, John Fox saiu pela casa no meio da madrugada, procurando pela origem daqueles barulhos sinistros. Em algum momento, Kate teria aparecido e começado a “brincar” com o que quer que estivesse provocando aqueles barulhos. Ela estalou os dedos e o convidou a repetir, o que o suposto espírito fez; depois, ele teria imitado batidas e, por fim, um código para respostas afirmativas e negativas havia sido criado.
Margaret Fox, segundo alguns relatos, resolveu testar o tal espírito e perguntou pelo número de filhos que havia tido. O número era 7, mas poucas pessoas sabiam disso. Ela havia perdido um menino com 3 anos de idade e, devido ao trauma, o marido e ela não tocavam no assunto. Margaret, porém, ficou perplexa ao ouvir sete batidas, indicando o número exato de filhos que haviam saído de seu ventre; e ainda mais perplexa ela ficou quando as batidas confirmaram a idade das crianças e, com três, revelaram a idade com que o bebê havia morrido.
As comunicações com o suposto espírito continuaram e, por meio de um refinamento do método de perguntas e respostas original, que passou a incluir as letras do alfabeto, eles obtiveram a declaração de que de fato se tratava do espírito de um mascate, cujo nome era Charles B. Rosma. Segundo o fantasma, ele tinha 31 anos quando, como acreditavam os vizinhos, teria sido morto naquela mesma casa e estaria enterrado no porão.
Desse método, das batidas nas letras do alfabeto para formar palavras, Elijah Bond (ou William Fuld) inventou o tabuleiro Ouija, que logo se tornou um produto altamente requisitado no mercado estadunidense. Ninguém da família Fox recebeu sequer um centavo por isso.
O suposto assassinato do mascate logo foi relacionado aos relatos da menina Lucretia e a responsabilidade pelo crime, creditada aos Bell. Uma busca foi empreendida no porão da casa e, de fato, alguns ossos foram encontrados, enterrados com um pouco de cal e restos de carvão… porém não havia qualquer registro de uma pessoa desaparecida com o nome de Charles B. Rosma e, após um médico examinar os ossos, concluiu-se que eram uma miscelânia, contendo inclusive ossos de animais. Nunca houve um inquérito e os Bell nunca responderam judicialmente, embora toda a comunidade tenha se voltado contra eles.
A essa altura, a mãe das meninas estava começando a se preocupar. Elas tinham se tornado famosas demais e ela receava que aquele nível de exposição acabasse prejudicando a vida das filhas. A Sr.ª Fox Não estava errada…
Inicialmente, Kate foi viver com Leah, sua irmã mais velha, que morava em Rochester. Maggie, por sua vez, passou um tempo com outro irmão, David, mas logo se juntou a Kate na casa de Leah.
Ao invés de afastar as irmãs dos holofotes, Leah, que deveria ter cerca de 33 anos nesta altura, passou a manifestar fenômenos mediúnicos também e juntou-se a elas em reuniões e exibições públicas relacionadas ao fenômeno das mesas giratórias. As três viajaram para muitos lugares e, por um tempo, ganharam notoriedade e muito dinheiro com isso.
Em 1885, Leah lançou um livro, The missing link in modern spiritualism, em que explorava a paranormalidade de seus ascendentes. Com efeito, a mãe das meninas, Margaret Fox, era uma mulher bastante interessante. Segundo se dizia, ela havia sido atingida por um raio duas vezes e não morreu. Em certa ocasião, dormiu e, quando acordou, seus cabelos haviam ficado completamente brancos.
Já crescidas, contudo, Kate e Maggie afundaram-se, ambas, no alcoolismo. Em virtude do casamento, Maggie afastou-se da cena pública do espiritualismo e Kate continuou sendo a “médium da família”.
Foi em 1888 que elas se envolveram numa disputa com Leah e outros membros da comunidade espiritualista, que acreditavam que Kate estava bebendo demais para cuidar dos filhos. Pelo que parece, Leah acabou levando a melhor e ficou com os filhos da irmã.
Talvez um pouco influenciada por isso, em 21 de outubro do mesmo ano de 1888 Maggie apareceu publicamente na New York Academy of Music e deu uma declaração, publicada com exclusividade no veículo de imprensa New York World, dando conta de que todos os fenômenos supostamente paranormais em que ela e as irmãs estiveram envolvidas teriam sido fruto de uma fraude; inicialmente, brincadeiras de duas meninas que queriam pregar uma peça nos pais; depois, exploração econômica por parte de Leah.
Maggie, notadamente alcoolizada, disse publicamente que as batidas produzidas pelos supostos espíritos vinham, na verdade, de uma habilidade que ela e a irmã haviam desenvolvido de estalar as articulações dos pés e dos joelhos. Fato é que, além do problema com a guarda dos filhos de Kate, nenhuma das duas estava bem financeiramente.
Um ano depois, em 1889, ela deu nova declaração pública, desculpando-se com todos e reafirmando a veracidade de sua mediunidade e dos fenômenos em que ela e as irmãs estiveram envolvidas. Maggie contou que passava por uma situação financeira difícil na ocasião e recebeu 1500 dólares do New York World para dar aquelas declarações. O estrago, porém, já estava feito e nunca mais ninguém lhe deu qualquer crédito.
Leva-se anos para construir uma reputação, mas apenas alguns segundos para destruir… É um mundo bastante perverso, este nosso, em que aparentemente é mais fácil destruir qualquer coisa do que construir, você não acha?
Poucos anos depois, em 1890, Leah faleceu, aos 76 anos. Dois anos depois, em 1892, com apenas 55 anos, foi a vez de Kate. Maggie partiu um ano depois, em 1893, aos 60 anos.
Que elas descansem em paz…
E você, o que acha? Meggie mentiu em 1888 ou em 1889? Em pelo menos uma das duas ocasiões ela certamente não estava dizendo a verdade…
Que bacana seu blog! Foi um prazer achar um site “à moda antiga” em pleno 2022. Incentivo a sua continuidade. Um abraço.
Poxa, muito obrigado! Esse tipo de retorno dá um gás danado e eu andava meio borocoxô